O Legal Design Movement também é sobre mim.
Estive pensando sobre isso enquanto meus olhos ardem.
Quando falamos de empatia, essa empatia também precisa nos abarcar, nos abraçar. Também precisa respeitar nossos limites, espaços. Também precisa alcançar nossas motivações, medos.
Eu também quero um mundo jurídico diferente, por mim. Talvez, sobretudo: por mim.
Para que eu também possa sonhar no direito, naquilo que me propus e me considero boa fazendo. Para que eu também tenha orgulho, mistério, voragem, anseio por aquilo que faço. Para que eu também me sinta importante. Para que eu também não me sinta objeto de um mundo que quer se apoderar dos meus saberes sem reconhecer meus méritos e habilidades.
Para que eu também não me torne um singelo gerador de prompts sem fundamentos que me permitam ter mais tempo para fiscalizar e-mails alheios e conspirar ideias de exclusão.
Para que eu também não seja mais um ser ferido, desumanizado, sem voz, barato e descartável, preso em rotinas que consomem nossas essências, famílias, hobbies.
O Legal Design precisa se estender para nós.
Para que sejamos reconhecidos não apenas pelos prazos cumpridos ou pelas metas batidas, mas pela nossa capacidade de inovar, de humanizar o que fazemos, de encontrar soluções que transformam.
Para que sejamos mais que peças na engrenagem: criativos, sonhadores, pessoas que estão contribuindo com algo maior do que resultados técnicos.
Para que o direito que praticamos seja uma extensão de quem somos, dos valores que carregamos e dos sonhos que temos.
O Legal Design Movement também é sobre nós, aqueles que estão nos bastidores, lidando com as pressões invisíveis, com o desgaste emocional, com a desvalorização de nosso trabalho e, muitas vezes, de nossa humanidade.
Nós que ansiamos por um mundo onde não precisemos escolher entre ser eficientes e ser humanos. Onde possamos ser escutados, onde a empatia não seja apenas uma tela amarela em setembro, mas uma prática que inclui a todos, especialmente aqueles que constroem o sistema todos os dias.
Eu preciso do Legal Design para que eu também possa respirar e ansiar pelo meu futuro.
Quando falamos de empatia no Direito, muitas vezes focamos no outro: no cliente, no destinatário da decisão, no público que precisa entender o processo. Mas essa empatia também precisa ser voltada para quem cria as soluções jurídicas, quem lida diariamente com o peso das normas, prazos e dilemas éticos.
O movimento do Legal Design não é apenas uma reestruturação de linguagem ou estética, mas uma reestruturação de valores, de experiências que incluem todos os profissionais da área. Para que advogados, juízes, promotores e todos os atores jurídicos possam se sentir acolhidos, reconhecidos e valorizados em sua jornada.
O sonho de um mundo jurídico diferente é um desejo profundo de transformação não só do sistema, mas de nós mesmos dentro dele.
Um sistema que permita que eu, e todos nós, tenhamos tempo para sermos criativos, para sermos humanos.
Que nos permita sonhar e ter orgulho do que fazemos, em vez de sermos máquinas de produtividade sem sentido.
Eu também sou parte fundamental desse movimento.
Legal Design é sobre pessoas antes de ser sobre ferramentas ou metodologias.
Se o Legal Design não considerar isso, não estará cumprindo sua missão.
É sobre empatia, sim. E essa empatia começa por nós mesmos.
Esse é o antídoto.
E se é sobre mim, também é sobre você.
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