Você já pegou um caso no escritório e, ao começar a trabalhar nele, percebeu que não tem a menor ideia do que foi decidido, do que foi discutido anteriormente ou, muitas vezes, nem sabe exatamente quem é o cliente?
Essa falta de informações claras no início de um processo é um dos maiores desafios na rotina de um advogado. Em vez de começar a trabalhar de forma estruturada, você perde tempo descobrindo o básico, e isso pode levar a retrabalho, frustração e até mesmo comprometer o sucesso do caso.
Mas e se existisse uma forma de organizar todas essas informações de maneira clara e estratégica, desde o começo?
O briefing é um documento (ou reunião) que organiza e transmite informações de forma clara e estratégica.
O briefing tem suas origens no meio militar, onde surgiu como uma ferramenta indispensável para alinhar estratégias e transmitir ordens de forma clara e objetiva. Em um cenário de guerra, onde decisões rápidas e precisas eram cruciais, os comandantes utilizavam briefings para comunicar objetivos, dividir responsabilidades e antecipar riscos.
Essa prática foi tão eficaz que acabou sendo incorporada por diversas áreas civis, como publicidade, design e tecnologia, e agora inspira até mesmo o universo jurídico, trazendo a mesma clareza e foco estratégico para a advocacia.
Hoje, o briefing é uma ferramenta essencial para alinhar expectativas e direcionar trabalhos em muitas áreas, como por exemplo:
Publicidade: Agências usam briefings para criar campanhas impactantes com base nas necessidades do cliente.
Design: Designers recebem briefings para entender o objetivo de uma peça visual, como um logo ou site.
Cinema e TV: Diretores e produtores fazem briefings para organizar cenas, temas e cronogramas.
Tecnologia: Times de TI recebem briefings detalhados para criar aplicativos ou solucionar problemas técnicos.
Arquitetura: Um briefing orienta o arquiteto sobre o que o cliente deseja (estilo, orçamento, necessidades).
E no direito?
Apesar de não ser chamado diretamente de "briefing", advogados também utilizam ferramentas parecidas:
Consultas com clientes: Quando o advogado coleta informações sobre o problema jurídico para definir a melhor estratégia.
Reuniões com equipes: Para alinhar prazos, atribuições e objetivos do caso.
Planos de defesa: Ao organizar os argumentos e provas necessárias para uma audiência ou negociação.
Assim como em outras áreas, o briefing jurídico deve ser claro, conciso e bem estruturado.
Por que advogados devem dominar o conceito de briefing?
Para evitar retrabalho causado por falta de informações ou desalinhamento.
Para economizar tempo ao identificar rapidamente os pontos-chave de um caso.
Para melhorar a comunicação com o cliente, gerando mais confiança e entendimento.
Lições de Outros Setores
Publicidade (David Ogilvy): Simplifique e inspire
Publicitários sabem que excesso de informação confunde. Ogilvy dizia que um bom briefing entrega uma ideia clara e contextualizada.
Na advocacia: Simplifique os documentos para que o cliente entenda e confie no que está sendo feito.
Arquitetura (Timothy Foster): Alinhe expectativas
Antes de projetar uma casa, o arquiteto garante que entendeu o que o cliente precisa. Foster vê o briefing como um "contrato de entendimento".
Na advocacia: Explique os limites do trabalho e os riscos do caso desde o início.
Tecnologia (Paul Arden): Defina objetivos claros
Em projetos de tecnologia, sem um briefing claro, os desenvolvedores podem criar algo que não atende às necessidades. Arden defende que "um briefing ruim gera resultados ruins."
Na advocacia: Estabeleça qual o resultado esperado – acordo, sentença favorável ou cumprimento de uma meta interna.
Exemplo Prático no Direito
Imagine que você foi contratado para cuidar de um caso de indenização por danos morais e materiais decorrente de um acidente de trânsito:
Sem briefing: O cliente traz informações soltas, sem clareza sobre o que ele realmente espera – um acordo rápido ou ir até o fim do litígio? Os detalhes importantes, como o orçamento do conserto do carro ou o impacto psicológico sofrido, aparecem de forma desconexa, e você perde tempo tentando organizar tudo ou refazendo peças.
Com briefing: Você coleta as informações essenciais desde o início – quem são as partes, os documentos disponíveis, os danos causados e os objetivos do cliente. Com um plano claro e estruturado, você otimiza o tempo e aumenta as chances de sucesso.
Para ajudar nesse processo, preparamos um modelo de briefing jurídico adaptado para casos de indenização cível.
Ele guia você na organização de informações fundamentais, no alinhamento de expectativas com o cliente e na definição de uma estratégia vencedora.
Confira e transforme a forma como você lida com casos complexos!
Modelo de Briefing Jurídico para Caso de Indenização Cível
1. Identificação do Caso
Cliente: João da Silva
Número do Processo: 1234567-89.2024.8.13.0000
Natureza do Caso: Indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trânsito.
2. Objetivo do Caso
Principal: Obter a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais (R$ 20.000,00) e materiais (R$ 10.000,00).
Secundário: Promover a composição amigável, se possível, para evitar custos e prolongamento do litígio.
3. Contextualização e Fatos Relevantes
Data do fato: 10/01/2024
Local: Avenida Central, Uberlândia - MG
Resumo do ocorrido:
Cliente estava dirigindo em velocidade permitida quando foi atingido por um veículo que avançou o sinal vermelho.
Réu estava alcoolizado, conforme registro no boletim de ocorrência.
Cliente sofreu prejuízo financeiro (reparação do veículo, despesas médicas) e impacto emocional significativo.
4. Documentos e Provas Disponíveis
Boletim de Ocorrência
Orçamento do conserto do veículo
Notas fiscais de despesas médicas
Laudo psicológico sobre o impacto emocional
Testemunha: Maria dos Santos (passageira no veículo do cliente)
5. Pontos Críticos e Riscos
Pontos favoráveis:
Boletim confirma culpa do réu.
Provas materiais robustas.
Riscos:
Réu pode alegar culpa concorrente.
Dificuldade em mensurar danos morais.
6. Estratégia Jurídica
Passo 1: Análise detalhada das provas para reforçar a responsabilidade do réu.
Passo 2: Propor acordo em audiência inicial, com base nos valores pleiteados.
Passo 3: Preparar argumentos sólidos para combater eventual alegação de culpa concorrente.
7. Cronograma do Caso
20/11/2024: Apresentação da inicial.
05/01/2025: Primeira audiência de conciliação.
10/02/2025: Prazo para apresentação de réplica.
8. Expectativa de Resultado
Resultado provável: Decisão favorável com indenização parcial ou total dos valores pleiteados.
Expectativa de duração: 6 meses a 1 ano, considerando a complexidade moderada do caso.
9. Próximos Passos
Reunir assinaturas nos documentos necessários.
Confirmar disponibilidade da testemunha para audiência.
Preparar cálculos atualizados das despesas materiais
-
Bom, é isso!
Se arquitetos, publicitários e desenvolvedores conseguem transformar briefings em resultados extraordinários, por que não aplicar a mesma lógica no direito?
Organize as informações, alinhe expectativas e veja a diferença no impacto do seu trabalho jurídico.
Gostou da ideia? Compartilhe e ajude outros advogados a transformarem suas práticas!
Comments