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O que é legal design? [2 - Limites]

Foto do escritor: Ana Beatriz Araújo CerqueiraAna Beatriz Araújo Cerqueira



Decência e boniteza de mãos dadas é um conceito de Paulo Freire para explicar como ética e estética se imbricam no processo educativo e, juntas, promovem mudanças capazes de trazer maior autonomia aos métodos relacionados ao aprender. É, ainda, nesse capítulo de "Pedagogia da Autonomia" que ele nos alerta que "divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado". E isso me lembra Castells no prólogo de "A Rede e O Ser", o velho de sempre, que sempre repito, já quase cansada: "É claro que a tecnologia não determina a sociedade (...). A tecnologia é a sociedade".

Freire segue, no capítulo adiante, dizendo que "as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou nada valem. (...) Não é possível ao professor pensar que pensa certo mas ao mesmo tempo perguntar ao aluno se 'sabe com quem está falando'". Isso vale, de igual para igual, quando falamos da mudança do direito e suas formas. Basta substituir professor por juiz/advogado. O legal design que é só papel, não convence. Precisa também de corporeidade. De acolhimento fático. Da sua dimensão cultural. Não há porque se falar apenas das formas. Não há porque propor uma nova estética, sem atacar a dimensão daquilo que a constitui.

Quando eliminamos a dimensão da cultura que o legal design propõe - ou seja, uma cultura da mediação, da escuta, da prevenção, do 'open', do creditar, do trazer outras formas de confiar - eliminamos qualquer possibilidade de mudança que o legal design pode promover. Daí "fazer legal design" vira folha pautada. Papel de carta. Cor. Caixinha. Cartilha. Vídeo, que seja.

A decência e a boniteza têm que estar lado a lado. Propor um novo direito, pintado em tons de rosa, azul, verde ou vermelho exige uma postura ética. Senão, é bobeira. O legal design precisa esclarecer dentro de uma perspectiva semiótica as mudanças que propõe. Explicar quem o rosa aproxima e afasta. Propor design como sinônimo de comunicação (isso aqui é Landim¹, do design) e legal design como uma mudança na forma de observar e aprimorar relações comunicativas que envolvem o Direito.

Lênio, assim, me faz pensar no que talvez seja uma grande questão: precisamos, de uma vez por todas, separar os cursos de "noções de design gráfico para advogados" de "legal design". É uma pena sem precedentes se a gente começar a misturar uma coisa com a outra. É uma mudança que não expande. Extrair a teoria que já foi construída ao redor do termo e transformá-lo em sinônimo daquilo que temos como "design" dentro do senso comum - no sentido redutivo do termo - é pecado, como diria minha avó.

Falar de legal design sem falar de transparência, cidadania, acesso à justiça, educação para o direito e cientificidade não é falar de legal design. É outra coisa. E esses limites precisam estar demarcados. Senão corremos o risco de perder antes mesmo de tentar.


¹ LANDIM, P. Design, empresa, sociedade. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

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Ana Beatriz

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PERGUNTAS FREQUENTES

Fundamentos do Visual Law e Legal Design

  1. O que é Legal Design e Visual Law?
    Legal Design e Visual Law são metodologias que unem Direito, design e tecnologia para criar documentos jurídicos mais claros, visuais e acessíveis.

  2. Qual a diferença entre Legal Design e Visual Law?
    Enquanto o Legal Design foca na experiência do usuário ao interagir com soluções jurídicas, o Visual Law aplica elementos visuais para tornar documentos legais mais atraentes e compreensíveis.

  3. Como o Visual Law é aplicado em petições?
    No Visual Law, petições incluem gráficos, fluxogramas e elementos visuais que explicam argumentos de forma clara e estratégica, melhorando a comunicação com juízes e partes envolvidas. Você pode encontrar templates prontos no Legal Design Movement.

  4. Quais são os exemplos de Visual Law na prática?
    Contratos com ícones explicativos, petições com infográficos, manuais jurídicos interativos e apresentações visuais de cláusulas contratuais. Baixe modelos gratuitos no Legal Design Movement.

  5. Documentos em Visual Law são aceitos pelos tribunais?
    Sim, respeitendo os requisitos formais exigidos pelo tribunal e melhorem a comunicação do caso.

Ferramentas e Recursos para Visual Law

  1. Como criar petições em Visual Law no Word?
    Você pode usar ferramentas do Word, como gráficos, SmartArt e tabelas, para estruturar informações visuais. No Legal Design Movement, você encontra templates prontos para Word que facilitam o processo.

  2. Existe um kit ou pacote de Visual Law para iniciantes?
    Sim, no Legal Design Movement, oferecemos um conjunto completo de templates gratuitos em Word, Canva e PowerPoint.

  3. Quais são as melhores ferramentas para Visual Law?
    Além do Word, ferramentas como Canva, Figma e Adobe Illustrator são populares. No Legal Design Movement, há materiais gratuitos para iniciar o aprendizado.

  4. Como o Canva pode ser usado no Legal Design?
    O Canva é ideal para criar documentos visuais com facilidade. No Legal Design Movement, você pode baixar templates personalizáveis para começar.

  5. Posso criar documentos jurídicos visuais sem conhecimentos de design?
    Com ferramentas amigáveis e templates prontos disponíveis no Legal Design Movement, é possível criar documentos visuais eficazes, mesmo sem experiência.

Educação e Cursos

  1. Onde encontrar cursos de Legal Design e Visual Law?
    Além de instituições como Bits Academy e Future Law, o Legal Design Movement oferece recursos e materiais introdutórios.

  2. Existe algum curso gratuito de Legal Design?
    Sim, o Legal Design Movement oferece conteúdo gratuito, incluindo templates e guias práticos.

  3. Curso de Legal Design vale a pena?
    Sim, alguns cursos ensinam habilidades práticas que ajudam a melhorar a comunicação jurídica e aumentar a eficiência.

  4. Quais são os melhores cursos online de Visual Law?
    Future Law e Bits Academy são referências. No Legal Design Movement, você encontra materiais que complementam o aprendizado. Outros blogs, como Bernardo Azevedo são boas fontes de atualização.

  5. É possível aprender Legal Design sozinho?
    Sim, com recursos online, vídeos no YouTube e o suporte do Legal Design Movement, é possível começar a explorar o tema.

Casos e Aplicações Práticas

  1. Como o CNJ utiliza Visual Law em processos?
    O CNJ aplica Visual Law para simplificar dados estatísticos, apresentar relatórios e melhorar a transparência na comunicação com a sociedade.

  2. O Visual Law pode ser usado em processos administrativos?
    Sim, é amplamente utilizado por órgãos como a AGU para criar documentos acessíveis e claros.

  3. Quais são os principais documentos criados com Visual Law?
    Petições, contratos, manuais de compliance e relatórios jurídicos estão entre os documentos mais comuns. Veja exemplos no Legal Design Movement.

  4. Como o Visual Law ajuda advogados?
    O Visual Law melhora a comunicação, economiza tempo e torna documentos mais persuasivos e impactantes.

Inovação no Direito

  1. O que significa Visual Law?
    Visual Law é a aplicação de elementos visuais no Direito para tornar informações legais mais acessíveis e fáceis de entender.

  2. Por que Legal Design está em alta?
    Com a digitalização e o foco no usuário, o Legal Design se tornou uma ferramenta essencial para inovar e melhorar a eficiência no Direito.

  3. Como o Design Thinking é aplicado no contexto jurídico?
    O Design Thinking ajuda a criar soluções centradas no cliente, como contratos claros e processos simplificados.

  4. Quais são os desafios de implementar Visual Law?
    Os desafios incluem resistências culturais no setor jurídico, a necessidade de aprendizado de ferramentas e a adequação às normas formais.

  5. O Visual Law pode transformar o futuro do Direito?
    Sim, ele tem potencial para democratizar o acesso à justiça, melhorar a eficiência e aproximar os profissionais do Direito das necessidades da sociedade.

© 2021 por Ana Beatriz Cerqueira. Uberlândia/MG. 

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